domingo, 23 de janeiro de 2011

As cortinas do espetáculo

Por mais que o homem diga, repita e deponha é mentira. O homem é sempre homem e muitos, por afirmação ou etiqueta – algo que também existe no universo masculino -, afirmam que a nudez é algo excitante, e realmente é. Das rodas de conversa após o futebol, às rodas de chimarrão o assunto sempre fura a pauta para ficar, desde que por ali não haja fêmeas.

Assim como as mulheres, que conversam sobre suas roupas, os homens também conversam sobre as roupas, delas. Há sempre um palpite, há sempre uma colocação quando se observa a vestimenta - ou a ausência dela – sobre a tez feminina. Abaixo do sol tímido deste fim de semana, frente ao oceano, existiu um desfile tanto de vestimentas, como consequentemente, de comentários, tecidos. Discussões de alto padrão, quase que um debate político, fundamentadas: fio dental? Vulgar demais. Com um top na lateral? Convidativo. Com argola? Desafiador. Dentre o julgamento, embasado, que deveria até ser feito com placas para servir de aviso, alcançamos a conclusão de que o melhor é o que deve estar escondido. Não é tão óbvio assim, vou explicar. Mais do que mostrar, é necessário esconder. O que se esconde, é segredo e o segrego provoca, atiça. O que é fácil não atrai. A nudez, por inteiro, é sem graça, é profana e portanto não dá o devido respeito. Não há sentimento de vitória nem de descoberta. Está ali, oferecida como laranja em feira.

Por isso, o biquíni que avança o sinal, que mostra demais é reprovável. Hoje em dia deve-se esconder, um pouco mais, mas não muito, pois é tênue a linha entre o provocativo e o sem graça.

Em síntese, a toalha enrolada, o saiote e a tanga amarrada, se tornam as cortinas do espetáculo. A qual a platéia espera ansiosa pelo início. Imagine se os filmes de cinema não tivessem trailer, se as peças de teatro não tivessem cortina. A pessoa sentaria na poltrona e já começaria tudo, por mais prático que fosse, seria sem graça. Assim é, se por cima do biquíni não tivesse uma saia, maldita, que prende a atenção dos marmanjos que ficam sentados na areia, por horas a fio, esperando: por um vento, por uma brisa, por um movimento em falso, torcendo para que a bola do frescobol caia logo, pra olhar, agora sim, o biquininho. Sim, o biquininho. Porque a nudez... A nudez é sem graça, se gratuita.