A bola rolava. Não, melhor: a bola quicava... havia pedra, e pelo chão - batido - a bola não rolava... pulava, assim como os meninos de canela fina. Ela, a bola, fazia embaixadinha nas pedras passava por cima do pé e quando o levantávamos, ela escorregava na poeira e ia por baixo, era uma euforia de gritos e gargalhadas daqueles que esperavam do lado de fora pela sua vez. Eram tardes eternas e tão curtas, quanto os “gol-a-gol”, que tinham lá seus cinco ou dez minutos. O pasto onde tinha, era ralo, a bola era rala, os pés: descalços e por conseqüência, ralos também. A alegria era pura, sem pretensão, sem gana, sem depender do que nos está longe do alcance. A felicidade independente. Independente de qualquer coisa que aconteça. Que começa no primeiro chute moleque, pra cima, dá uma pausa quando a bola cai no vizinho e retorna, maior ainda, quando a bola surge alta, vinda por trás do muro alto, tapando o sol que é forte e aumentando os gritos, agora, somado a aplausos. O retrato de uma infância saudável e feliz. Afinal, não há nada que termine com a felicidade daqueles que ali estão, se estiver calor é bom, se chover, melhor ainda, enquanto a bola estiver pra um lado e pro outro – mesmo que rasgada, pelo vizinho - haverão aquelas canelas finas atrás. Mas é uma pena vermos que nossa infância se foi, não para nós, outrora canelas finas, pois ela sempre estará presente. Mas ver que aqueles que nos descendem, não terão campos ralos, nem tão pouco, pés descalços. Não terão machucados, canelas finas quem sabe, gripe pelas tardes na chuva...No amanhã, os pequenos terão apenas compromissos, desde cedo, vidas de adulto para responsáveis infantis. Responsabilidades pesadas sobre as costas daqueles, que ainda não criaram base para sustentá-las. Espero voltar a ver um dia no céu pipas cortando as nuvens, dando rasantes, e dançando de um lado para o outro... sem compromisso, assim como os meninos de canelas finas.
quarta-feira, 5 de maio de 2010
Assim como os meninos de canela fina
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