sexta-feira, 12 de março de 2010

O que nos dizem as botas...

Haviam umas botas. Que botas! Um par de botas que mereceria uma exposição exclusiva para si...Só não mereceu por não receber apoio do Ministério da Cultura. Porém convenhamos, há botas e botas. Algumas delas são extraordinárias. Qualquer destemida que calçá-la, estará pronta. Pronta pra tudo. Os pés, que nesse tipo de sola se aconchegam, estarão prestes a encarar algo novo. Até porque, inacreditáveis, são as botas. E inacreditável será aquela que dentro dela estará enraizada. Podia haver um ditado, se é que já não há, que cite: “diga-me o que calças, que te direi quem és”. Na verdade já existe um parecido.

Mas voltando as botas, elas diziam, e muito, sobre aquela criatura. Era uma bota enegrecida, assim como ela. Uma bota reluzente, assim como ela. E acima de tudo, a bota era roliça e torneada, assim como ela. Deve ter custado caro aquilo. Provavelmente lhe foi comprada por um de seus "súditos”.

O cano, da bota, era justo, calçado à vácuo. Se firmava na parte mais polpuda da panturrilha. Apertava de modo que o cano não escorregasse e também permitia que naquela panturrilha, pulsasse o sangue. E pulsava, com fervor. O cano era firme. E isso era bom.

Findando o cano, permanecia o cerne, o conteúdo, que assim como nos livros, é o que interessa, normalmente. Aquela tez lisa e curvilínea dava segmento a lisura e curvatura do cano, da bota. Quanta pressão. E a pressão seguia. Curva pra cima, curva pra baixo, intersecção. Todas fechadas, não havia naquele território, sequer, uma reta. E essa quantidade de curvas era coberta por um longo e espesso sobretudo. Aquele casacão, sobretudo, escondia o jogo e criava aflição em todos. Era impossível saber que tantas curvas se curvavam por debaixo daquela estupidez de casaco, sobretudo.

Mas o que realmente importa dessa história toda, não é a bota ou o cano. E nem o sobretudo, sobretudo.

É sim, a personalidade que aquele calçado trazia. Tenho absoluta certeza de que qualquer pessoa da face da Terra conseguiria descrever e entender de quem estávamos tratando. De qual moçoila teria a ousadia de comprar e principalmente, calçar seus pés 35/36 dentro daquela ofensa de calçado.

Com apenas uma parte daquilo que lhe vestia, já conseguiríamos descobrir de quem se tratava em questão. Em um close, em um fato.

E assim é Pato, Abbondanzieri. Há quem diga que sua contratação pelo Internacional foi errônea, por ser um goleiro velho, em fase decadente. Mas mesmo o Inter levando sufoco do medíocre Deportivo Quito, Pato mostrou porque é tão respeitado lá fora. Além das defesas, assim que percebeu o grave erro do árbitro no pênalti marcado, partiu pra cima do auxiliar, como todo bom argentino. Conseguiu fazer com que o árbitro voltasse atrás, humildemente. Se dependêssemos de Lauro, veríamos uma cara de injustiça e um gol a mais no score do adversário. Mas menos mal, que o Inter teve audácia e ousadia: comprou para si a bota da imponência, a bota da personalidade, que em um lance, justifica seu valor.